Segundo dados do Primeiro relatório mundial sobre visão publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em outubro de 2019, pelo menos 2,2 bilhões de pessoas no mundo têm algum tipo de deficiência na visão que precisa de cuidados médicos ou que poderia ser prevenida ou suavizada com receitas de óculos de grau.
Estes dados mundiais comprovam a importância de uma visita regular ao oftalmologista, medida que pode ajudar a prevenir o agravamento de doenças da visão ou ajudar a corrigir deficiências visuais, impedindo que elas evoluam para quadros mais graves.
Uma pesquisa realizada pelo Ibope, em 2020, por encomenda da Alcon em parceria com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, revelou que 34% dos brasileiros adultos nunca foi ao oftalmologista, e 66% dos entrevistados afirmou usar óculos de grau comprados sem receita médica, por contra própria, para melhorar a condição da visão no dia a dia.
Neste artigo vamos esclarecer a importância da receita médica de óculos de grau e como saber o grau do óculos indicado na prescrição.
Publicado em 31 de março de 2021 / Tempo de Leitura: 7 minutos
Colaborou com este artigo: Dr Renan Oliveira (CRM-SC 24.929) – oftalmologista especialista em cirurgia refrativa e catarata no Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem (Joinville, SC)
Quem usa óculos sabe que a receita médica dos oftalmologistas pode ser um pouco complexa, uma vez que traz diversas siglas e numerações. Mas a sua leitura não é tão difícil quanto parece.
Para entender melhor: a córnea é a estrutura transparente que compõe a parte anterior de nossos olhos, e tem a função de uma lente natural. Como toda lente, é a curvatura da córnea que determina o seu poder dióptrico (ou grau). O astigmatismo na córnea é quando há uma assimetria nesta curvatura, havendo diferença entre diferentes eixos da curvatura da córnea. Por isso o astigmatismo deve ser corrigido em um eixo determinado.
Veja mais sobre Grau cilíndrico aqui!
Os índices refrativos ou dioptrias são as nomenclaturas técnicas para o que conhecemos como o grau de óculos. Essas dioptrias, que causam problemas na visão, podem ser esféricas ou cilíndricas. Por isso, para encontrar o grau de óculos na receita oftalmológica você deve procurar o número nas siglas Esf (Esférica) ou Cil (Cilíndrica) ou DE (Dioptria Esférica) e DC (Dioptria Cilíndrica).
Veja o que cada uma das siglas significa para a saúde da visão.
1. Esférico indica a potência da lente e quando vem com o grau positivo indica a hipermetropia, e quando atesta o grau negativo indica a miopia.
Siglas: Esf. Ou DE (Dioptria Esférica)
2. Cilíndrico indica se é necessária correção para astigmatismo e, normalmente, vem com grau negativo.
Siglas: Cil. Ou DC (Dioptria Cilíndrica)
Atenção: caso a receita tenha um grau positivo no cilíndrico, é preciso que a ótica faça um cálculo de transposição na receita, para enviar o pedido para o laboratório. Mas isso é bem difícil de acontecer no Brasil, porque a grande maioria dos médicos está alinhada com a “orientação” dos laboratórios óticos que seguem sempre o valor negativo do astigmatismo.
Duas siglas ainda podem aparecer na receita de óculos de grau:
1. DNP ou Distância Naso-pupilar: que indica a distância do meio do nariz, onde ficam apoiados os óculos, até a pupila.
2. DP ou DIP = Distância pupilar: que indica a distância entre as pupilas.
Essas distâncias devem ser revisadas na ótica, uma vez que são fundamentais para a produção dos óculos de maneira correta.
Agora vamos mostrar alguns exemplos de receitas para diferentes deficiências da visão para que fique mais fácil de descobrir o grau do óculos pela receita.
Nessa receita de óculos de grau a pessoa apresenta +1,75 em ambos os olhos e -1,00 de astigmatismo no olho direito, no eixo de 95 graus.
Como a dioptria indicada é para perto, isso caracteriza uma condição chamada presbiopia, mais conhecida como vista cansada, muito comum em pessoas acima dos 40 ou 45 anos, uma vez que a musculatura ocular perde força e/ou o cristalino perde flexibilidade e por isso deixa de fazer o foco correto para a leitura.
Nesse caso o paciente apresenta dioptrias positivas para longe em ambos os olhos, caracterizando a hipermetropia. Veja que nessa receita o médico pede para que seja medida a DIP, ou distância pupilar, na ótica.
Neste último exemplo o paciente apresenta valores negativos de -2,75 em ambos os olhos, e no olho esquerdo -0,75 de astigmatismo no eixo de 30 graus. O valor esférico negativo para longe indica a miopia.
Na receita o médico também pode pedir que seja medida a DNP e orientar que o paciente confira os óculos antes de usá-lo e alerta para um período de adaptação das lentes.
Como vimos na receita acima é importante lembrar que existe um período de adaptação para os óculos de grau. Isso porque o nosso cérebro precisa se acostumar com a correção das lentes (neuro adaptação). No início pode haver certo desconforto, leve tontura e até uma dificuldade de orientação quanto ao solo, principalmente em casos de astigmatismo e lentes multifocais.
No entanto, esse período é de aproximadamente 15-20 dias, e caso o desconforto permaneça depois deste prazo é preciso voltar ao médico ou à ótica e conferir as medidas dos óculos.
Outra dúvida comum quando o assunto é receita de óculos de grau é com relação a validade neste documento.
A verdade é que o ideal é usar a sua receita logo após a consulta médica, mas como indica-se uma visita anual ao oftalmologista é possível dizer que a receita tem a validade de um ano.
Mas atenção, a manutenção dos óculos para manter a correção correta é fundamental para manter o conforto da visão, por isso quanto mais antiga for a receita médica, mais chances de que os óculos produzidos tenham que ser trocados em breve.
Agora que você já entendeu como ler a sua receita de óculos de grau, separamos algumas dicas para escolher o melhor modelo de óculos e lente para a sua receita!
Para a presbiopia ou vista cansada existem três tipos de óculos indicados. O primeiro é o de leitura, que só pode ser usado para distâncias curtas, aquele que vemos as pessoas usando na ponta do nariz, sabe?
Um exemplo interessante é no restaurante, a pessoa precisa usar os óculos de leitura para ler o cardápio, mas precisa colocar na ponta do nariz ou pendurar no pescoço para enxergar o garçom.
Para não ter este problema, é possível usar uma lente multifocal, que faz a correção para uma distância curta, média e longa. Na porção médio superior da lente está a correção para longe, e em direção a parte inferior da lente há uma progressão gradual de dioptrias positivas que fazem a correção para distâncias intermediárias e curtas.
Outra opção são as lentes de área de trabalho, elas possuem correção para distâncias médias e curtas, perfeitas para quem trabalha o dia todo no computador, por exemplo.
Para pessoas com necessidade de baixa correção, até – 3 (miopia) ou + 3 (hipermetropia), e um pouco de astigmatismo, as lentes simples com índice de refração 1.50 podem ser usadas com tranquilidade. Essas lentes podem ser usadas até 6 graus esféricos, mas quanto maior o grau, mais grossa será a lente e esse peso pode causar desconforto para uma pessoa que usa óculos o dia todo.
Além disso, as lentes muito grossas causam uma distorção na aparência do olho, deixando ele esteticamente menor (na miopia) ou maior (na hipermetropia) o que também pode incomodar o usuário. O melhor exemplo neste caso são os famosos óculos fundo de garrafas, que atormentavam inúmeras crianças na época da escola.
Outro detalhe que poucas pessoas sabem é que quanto maior a armação, mais grossa será a lente para correção de miopia, por isso, caso escolha uma armação grande, recomenda-se escolher uma lente mais fina, com índice de refração 1.59, de policarbonato, por exemplo.
Neste exemplo de receita, temos um paciente com Hipermetropia, Astigmatismo e Presbiopia. Nesse caso, a lente mais recomendada é a Multifocal, uma vez que fará a correção dos erros refrativos para distâncias curta, média e longa. Como a dioptria apresentada na presbiopia é acima de 4 também recomenda-se uma lente com índice de refração maior do que 1.50.
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